quarta-feira, 28 de abril de 2021

AS LIÇÕES DO MUNICÍPIO DE SOBRAL- CE PARA A GESTÃO DA EDUCAÇÃO DE CONCEIÇÃO-PB

 

 

O ponto de vista do Doutor Erik Figueiredo

 

Não adianta dizer: ‘Estamos fazendo o melhor que podemos’. Temos que conseguir o que quer que seja necessário” Winston Churchill.

 

 

A citação de Winston Churchill possui vários significados. Primeiro, ela foi proferida por um dos maiores líderes políticos da história ocidental e, sem exagero, devemos a ele às nossas liberdades individuais (recomendo o filme “Darkest hour” de 2017, para aqueles que querem conhecer um pouco do momento mais decisivo da vida do primeiro ministro inglês durante a II Guerra Mundial).

 

Durante sua atuação como homem público, Churchill sempre trilhou o caminho mais difícil visando um futuro melhor para a sua nação. Esse tipo de atitude é o que esperamos de um agente público. Tomar decisões fáceis, seguir o fluxo tomando a trajetória menos tortuosa parece ser o default de nossos homens públicos. Infelizmente, o caminho mais fácil nem sempre conduz a um a resultado satisfatório.

 

Usemos o exemplo da política educacional. Quem se oporia a inclusão de um professor adicional em sala de aula? Quem contestaria a construção de mais escolas, em especial, nas zonas rurais? Que votaria contra a inclusão de materiais como sociologia, filosofia ou até mesmo aulas de xadrez em nossas escolas públicas? Se sua resposta foi: ninguém, você está optando pelo caminho mais fácil e os resultados, como mostraremos a seguir, não são satisfatórios.

 

Para se ter uma idéia de um resultado satisfatório envolvendo um conjunto de ações ousadas, devemos nos transportar para Sobral (CE). No final da década de 1990 o município atestou, via avaliação externa do Instituto Ayrton Senna, que 40% dos seus alunos não sabiam ler e escrever. A partir de então, passaram a implementar uma série de ações voltadas para a transformação educacional do município. Para se ter uma idéia do resultado, em 2005 Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) associado as crianças de até 5 anos de idade era de 4,5. Em 2017 esse índice atingiu 9,7 (o Ideb varia de 0 a 10, sendo 10 o melhor desempenho). Convém ressaltar, que a média do Ideb nacional em 2017 foi de 5,8.

 

Diante de tamanha evolução, pergunta-se:o que município cearense fez? De uma forma geral, as ações foram concentradas em 3 eixos: pedagógico, administrativo e de avaliação.   No âmbito pedagógicos, destacaram-se:

 

a)         a criação de um ano a mais no Ensino fundamental, antes de se tornar uma prática nacional;

b)   um ano a mais para alfabetização (antes da primeira série regular);

c)   elaboração de um material didático unificado;

d)   formação continuada dos professores;

e)  a prefeitura passou a pagar salários maiores que o piso nacional, valorizando o magistério, entre outras.

 

 

Na esfera administrativa, optou-se pela nucleação do ensino. Em ouras palavras, buscou-se  reduzir o numero de escolas de 98 para 38.  Escolas da zona rural dificultavam a alocação eficiente de recursos (alta dispersão espacial, turmas multisseriadas). Antes, as 40 menores escolas municipais correspondiam a 4,4% das matrículas. Evidente que o fechamento de escolas gera um ônus para um gestor. É preciso ter uma confiança estrita no processo. É preciso também fornecer condições de transporte para as crianças que seriam buscadas em suas casas e alocadas em um numero menor, porém, bem mais estruturado de escolas municipais. O acompanhamento do desempenho das escolas é continuo e, embora os diretores possuíssem autonomia, a secretaria poderia intervir na escola caso os resultados não fossem satisfatórios.

 

Por fim, no ramo de avaliação, estabeleceu-se que cada aluno deveria participar deduzas avaliações externas por ano. Os rendimentos das turmas, dos professores e dos  diretores eram acompanhados com frequência. Evidente que as ações foram mais amplas. Mas não é o objetivo dessa matéria exaurir o assunto.

 

Diante dessas evidencia, nos perguntamos: como nosso município se comportou no mesmo período? Apesar dos avanços em termos de estrutura, os resultados do Idep de Conceição não mostraram a evolução desejada. Em 2005 o Ideb era de 2,9 (inferior ao 4,5 de Sobral). Em 2017 ele passa para 5,2 (bem inferior ao do município cearense que atingiu 9,7).

 

A lição deixada por esses indicadores mostra que o gestor público tem que ir além. Nossa região necessita de ações mais ousadas e sustentadas na evidencia cientifica. É preciso mensurar. É preciso desenhar a política pública e ter a coragem de assumir riscos. Como já mencionado em uma coluna anterior, o ajuste fiscal e o respeito ao recurso público já foi demonstrado pelas gestões recentes de Conceição. Precisamos agora pensar a política pública de forma mais clara e eficiente.

 

Termino evocando Churchill novamente: “Não há mal nenhum em mudar de opinião. Contanto que seja para melhor.”


Erik Alencar de Figueiredo

Pós-Doutor em economia pela University of Tennessee, Estados Unidos. Atualmente é Subsecretario de Política Fiscal do Ministério da Economia.



 

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário